Um novo tempo de democracia, amor e esperança

 

No Brasil em que uma mulher é morta a cada duas horas, conforme o Monitor da Violência, resgatar a trajetórias dessas mulheres é também desafio e ousadia. A História do Brasil, tantas vezes, ocultou seus legados – sobretudo das mulheres negras e indígenas – mas aos poucos vamos estampando seus rostos e biografias. Não temos pretensão de contar uma história única e sim visões, percursos, discursos, escolhas e oportunidades. Em nome de milhares.

Para reavivar tantas memórias femininas, por vezes silenciadas, a Defensoria Pública conta o feito de uma, duas, treze mulheres, que, na verdade, são milhares de histórias tais quais as que todos os dias adentram nossas portas, em busca de direitos. As usuárias da Defensoria pautam a rotina do acesso à justiça: mais de 60% do público que busca atendimento nas nossas unidades é feminino.

Nós, da Defensoria do Ceará, contribuímos cotidianamente com o nosso labor pela diminuição das vulnerabilidades. Esse ano, vamos somar forças com a convocação de novos defensores e defensoras, oriundos de concurso público, o primeiro da Defensoria do Ceará com vagas reservadas a pessoas negras, indígenas e quilombolas. Uma reparação necessária às populações historicamente excluídas. Mais uma grande conquista para deixar o estado ainda mais verde com mais defensoras e defensores no interior.

Todas Somos Uma – Histórias de mulheres, lutas feministas, tema que permeia o ano de 2023, traz a referência da cor e traço nos 50 anos de falecimento da Tarsila do Amaral, “a pintora dos brasis”. Ela que também teve a ousadia de pintar o destino e transformar. Além dela, mais de 50 mulheres engrandecem essas páginas com seu legado e protagonismo como Nair de Teffé, Dorothy Stang, Lélia Gonzalez e Ana Nery. Reverenciamos suas trajetórias. Nem é exagero pensar quantas delas existem em cada um de nós, homens e mulheres, talhados na luta de viver e ter direitos. Repito a frase da Chimamanda Ngozi Adichie, notável escritora nigeriana: “feminista é o homem ou a mulher que diz: sim, existe um problema de gênero ainda hoje e temos que resolvê-lo, temos que melhorar. Todos nós, mulheres e homens, temos que melhorar”.

E é sobre o som de boas novas e melhorias ao País e ao Ceará que semeamos o novo ano. Cabe a cada pessoa inaugurar um novo tempo de paz, de respeito às instituições, de amor e esperança, lidando com as nossas divergências no campo democrático e plural. Inaugurar um novo tempo para nos conectarmos ao outro e promover a paz social. Não somos dois países divididos por um muro intransponível de intolerâncias. Somos uma grande nação, falamos a mesma língua e podemos reconstruir, com os alicerces do amor, a lição entoada na voz irretocável de Milton Nascimento e sua “estranha mania de ter fé na vida”. Afinal, “é preciso ter sonho sempre”.

Estaremos irmanados e munidos de esperança por cada direito conquistado e por um país livre de injustiças, porque enquanto houver desigualdades, teremos Defensoria ao lado de quem precisa.

Elizabeth das Chagas Sousa
Defensora pública geral do Estado do Ceará