Rachel de Macedo Santos Monte
Assessora das Defensorias de Família e Sucessões em Juazeiro do Norte 

Mesmo com o receio de como seria, do que encontraria pela frente, diante da rotina intensa dos atendimentos, Rachel aceitou o chamado e se integrou à equipe da Defensoria Pública em Juazeiro do Norte. O convite veio pelos defensores públicos Gumercindo Ângelo De Santana Ferreira e Iranildo Alves Feitosa (hoje aposentados) e oportunizou um reencontro com sua profissão, um retorno à trilha do Direito, onde se formou em 1994. Mas foi apenas em 2006, nos corredores da Defensoria, que sua prática profissional começou a dar um novo sentido à sua vida.

A caminhada foi longa, intensa, cheia de desafios e aprendizados. E, justamente ali, Rachel descobriu uma paixão além do direito: o acolhimento das pessoas. Aprendeu a escutar com o tempo certo de quem sabe que cada história carrega o peso de grandes lutas. Encontrou, no gesto de ouvir com calma e atenção, uma forma de cura — para o outro e, talvez, para si. E foi assim, dia após dia, que passou a colecionar o brilho nos olhos de quem saía agradecido dali mais leve, se sentindo mais humano, mais digno.

Desde então, já são 18 anos que Rachel segue onde seu coração fincou raízes. Permanece na Defensoria de Juazeiro, hoje como assessora jurídica continua se reinventando, se forma continuamente — na profissão e na alma. Ali chegou. E ali escolheu ficar.



Defensoria: Como foi seu primeiro dia na Defensoria? O que ficou gravado na memória?

Rachel: 

Meu primeiro dia na Defensoria foi em 6 de novembro de 2006. Na época, só havia dois defensores na comarca de Juazeiro do Norte: o Dr. Gumercindo e o Dr. Iranildo. Assim que cheguei, me deparei com dezenas de pessoas já aguardando atendimento, às 8 horas da manhã. Era uma sala pequena, dentro do Fórum, e dentro dela havia outra ainda menor, onde os dois defensores trabalhavam. Não havia estagiários, assistentes, secretários era só eles dois.

Começaram a me orientar e aos poucos, fui recebendo processos para analisar, aprendendo a identificar o que era necessário fazer em cada caso. Isso despertou em mim o desejo de estudar novamente, de aprofundar o conhecimento na profissão que, até então, eu não exercia de fato.

Mas, de início, aquela multidão na porta me assustou. Eu nunca tinha visto tanta gente assim esperando por atendimento jurídico. Mesmo sabendo que a Defensoria era voltada para pessoas em situação de vulnerabilidade, a cena me marcou profundamente. Fiquei com medo do que iria enfrentar. Mas, ao mesmo tempo, senti que precisava aceitar aquele desafio. Fui convidada por eles, e mesmo sem ter prática, mesmo já sendo formada em Direito há algum tempo, eu disse: “Eu vou.”

Foi um começo marcante  pelo número de pessoas, pela realidade crua e pela certeza de que havia muito trabalho a ser feito.

 

Defensoria: Em que momento você sentiu que o seu trabalho fazia diferença na vida de alguém?

Rachel:

Isso levou um certo tempo para mim. No começo, enfrentei uma fase de adaptação e aprendizado, até me sentir pronta para começar a atender o público. Foi nesse processo que comecei a compreender, de verdade, o meu papel ali. Percebi que, muitas vezes, as pessoas só precisam ser ouvidas.O simples ato de desabafar já traz alívio, gera gratidão.

Desde então, faço questão de oferecer um atendimento diferenciado, humano, atento. E os retornos começaram a chegar: elogios, olhares de agradecimento, mais gestos de reconhecimento do que críticas. Ao longo dessa trajetória de quase duas décadas na Defensoria, ouvindo os assistidos saírem emocionados, felizes, dizendo o quanto foram bem acolhidos, compreendi, de forma profunda, a importância do que faço.

Defensoria: O que te motiva a seguir contribuindo com essa instituição?

Rachel:

Aqui sempre foi um espaço de acolhimento muito humano.E não só com os assistidos, mas também com quem trabalha lá. Fui muito bem recebida pelos dois defensores, que souberam reconhecer que, apesar da formação, eu chegava com pouca experiência prática. Tiveram paciência para me ensinar, para me inserir nesse novo universo. Posso dizer que a Defensoria é uma extensão da minha casa. As pessoas são mais que colegas, são amigos. A relação é quase familiar, e isso é muito valioso para mim. E o que me motiva a continuar contribuindo com a Defensoria é, antes de tudo, o prazer de atuar na área que escolhi para minha vida. Embora não seja advogada, sou bacharel em Direito, e foi com esse propósito que estudei: trabalhar com algo que realmente me realiza. Além disso, há uma enorme satisfação em ver, ao longo dos anos, como o meu trabalho também colabora para o crescimento da instituição.

Desde que entrei, em 2006, testemunhei uma transformação profunda na Defensoria. Foram avanços significativos, uma verdadeira virada. E eu estive ali, acompanhando cada passo dessa evolução. Isso, para mim, é extremamente gratificante. Não tenho planos de sair tão cedo — a menos que um dia me digam que meus serviços não são mais necessários. Fora isso, quero me aposentar aqui, onde me sinto em casa.

DIVERSOS:

Depois da recepção, eu fui para o gabinete da Defensoria. Então, o primeiro dia de trabalho, tu chegou pra ser telefonista, né? Mas era telefonista só no atendimento, tipo alô, Defensoria, ou Neyara. Neyara. Era recepção e telefonia. Recepção e telefonia. Dava as orientações e dava suporte também ao Defensor. Sim. Com o envio dessas… E tudo.